Camões Filho, jornalista, cronista, poeta
Enquanto 2013 vai saindo trôpego dos calendários para entrar para a
história, 2014 vai chegando todo serelepe, com carinha de menino levado, que
vai aprontar todas no novo ano.
Vai começar tudo de novo. Trabalho, correria, notícias boas e ruins,
sobressaltos, muitas contas pra pagar, alegrias aqui, tristezas acolá.
Vai começar tudo de novo, como na canção de Ivan Lins: “Começar de novo
e contar comigo / Vai valer a pena ter amanhecido / Ter me rebelado, ter me
debatido / Ter me machucado, ter sobrevivido / Ter virado a mesa, ter me
conhecido / Ter virado o barco, ter me socorrido”.
Pois é, um ano termina e começa outro. Vamos respirar fundo e começar o
ano de 2014 com a esperança dos sonhadores, como um dia nos cantou o saudoso
Gonzaguinha:
“Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor. / A chama em meu
peito ainda queima, saiba, / nada foi em vão. // A fé no que virá / E a alegria
de poder olhar prá trás / E ver que voltaria com você / De novo, viver / Nesse
imenso salão...”
Pois é, nesse imenso salão chamado vida, vamos começar tudo de novo,
enquanto nosso coração bate e sangra. Até que um dia já não estaremos mais aqui
e para nós nada mais irá começar e seremos chamados de saudade.
Tem uma bonita história que simboliza tudo isso, falando do menino que
sempre pedia ao seu pai para dar o começo, quando ia descascar uma tangerina.
“Pai, começa o começo?”
O que eu queria era que ele fizesse o primeiro
rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos.
Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim.
Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante
da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.
Meu pai morreu há muito tempo e não sou mais
criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo
menos, “começar o começo” de tantas cascas duras que encontro pelo caminho.
Hoje,
minhas “tangerinas” são outras. Preciso “descascar” as dificuldades do
trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo
familiar.
O esforço diário que é a construção do
relacionamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos
realizados e felizes.
O enfrentamento sempre tão difícil de doenças,
perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as
dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.
Em certas ocasiões, minhas “tangerinas”
transformam-se em abacaxis.
Lembro-me, então, que a segurança de ser
atendido pelo meu pai quando lhe pedia para “começar o começo”, era o que me
dava a certeza de que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e
saborear a fruta.
Além da atenção e carinho que eu recebia, ele
também me ensinou a pedir ajuda a Deus, Pai do céu. Meu pai terreno me ensinou
que Deus é eterno, que está sempre ao nosso lado e que seu amor é a garantia
das nossas vitórias.
Quando a vida parecer muito difícil, como a
casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembremo-nos de
suplicar o auxílio Divino.
Deus nos indicará o caminho e não só começará
o começo, mas pode ser que, em algumas ocasiões, resolva toda a situação.
Não sabemos o tipo de dificuldade que
encontraremos na nossa caminhada, mas amparemo-nos no amor eterno de Deus para
pedir, sempre que for preciso: Pai, começa o começo?
Interessante que eu também assim pedia, ao meu pai ou minha mãe... e
eles descascaram para mim muitas tangerinas... e abacaxis!
E você aí, quer uma ajuda? Quer que eu comece o começo pra você?
2014 está chegando de mansinho. Que o ano novo seja cheio de tangerinas
e que tenha menos “abacaxi”...