Professor Silvio Prado |
Silvio Prado, professor
Em qualquer guerra, o voo mortal dos aviões é planejado. Tiros
de infantaria, mísseis pesados que destroem quarteirões, a chuva intensa de
balas que varam a arquitetura de casas e prédios, tudo é bem pensado e
planejado. A mina que se plantou no chão para colher pés desavisados, a
trincheira cavada à porta de um vilarejo, o terror sobre a população civil e o
extermínio de inocentes, tudo é muito bem pensado, planejado e arquitetado
conforme determinam interesses bem específicos.
Em qualquer guerra, avanços, recuos, cercos, investidas,
extermínios, não ocorrem por acaso. Insuportáveis gritos de dor e desespero,
mortes ou tragédias que se abatem sobre crianças não acontecem por acontecer.
Tudo tem sua lógica e necessidades determinadas exatamente pela lógica e
necessidades que a guerra impõe para ser o que é e alcançar seus objetivos.
Toda guerra custa homens que vão matar e morrer, mas custam
também homens que precisam organizar a matança muito antes que seja dado o
primeiro tiro, caia o primeiro míssil e gente anônima apareça estraçalhada nos
jornais.
Durante anos, especialistas na arte de matar e destruir, ensinam
a matar e destruir de forma mais eficiente e covarde possível. Assim como
médicos precisam de quase uma década de vida para apreender a salvar com
eficiência, militares precisam de menos tempo para dominar técnicas e
artifícios que semeiam estragos por meio de tiros e outros artefatos mortais,
inclusive bombas, que podem ser lançadas com precisão sobre alvos militares e, se
necessário, sobre torres de eletrificação, estações de tratamento de água,
bairros residenciais, igrejas, escolas e até hospitais, nunca deixando os
responsáveis de dizer, depois, que atentados à população civil sempre ocorrem
por mero acidente ou efeitos colaterais inevitáveis.
Do ponto de vista das necessidades reais de uma sociedade,
qualquer anônimo agricultor iletrado que plante apenas um grão de feijão é
socialmente mais útil que os milhões de militares que incendeiam o planeta. Um
grão de feijão produz infinitamente mais vida que milhares de explosões
precisas de um míssil Tomahawk ou ordens de massacres de um poderoso general.
A ciência, cada vez mais vive por trás e na frente de todas as
guerras modernas. Nenhuma arma hoje se produz sem conhecimento cientifico.
Nenhuma vai para o combate sem o devido teste que comprove sua capacidade de
destruir e matar. Pode ser um sofisticado míssil de milhões de dólares, uma
simples granada e imperceptíveis minas terrestres. Tudo é testado, previsto e
comprovado matemática, química e fisicamente. Se não servir para matar, não
serve.
A indústria bélica é dona de poder jamais visto e fatura
horrores com a desgraça de povos que tiveram o azar de colher os frutos
plantados por ela. A indústria bélica come na mesma mesa e dorme na mesma cama
dos que falam por interesses dos grandes estados que, por sua vez, fingem que
falam pelo povo, mas falam somente pelas corporações que regem o mundo conforme
objetivos econômicos bem definidos, e que precisam tanto da mão política do
estado quanto da mão armada dos exércitos para garanti-los.
Milhões de cientistas e técnicos ganham a vida criando artefatos
geradores de desgraça e morte. Eles são, em sua maioria, cidadãos normais, que
pagam impostos, amam os filhos, juram querer o bem do próximo, frequentam
igrejas e creem em Deus e dormem o sono dos justos, isso nas horas em que não
exercem o oficio de produzir eficientes artefatos geradores de desgraça e
morte. Trata-se de um desperdício de cérebros e inteligências privilegiadas, que
poderiam usar o potencial criativo de forma realmente humana e menos selvagem.
Guerras custam dinheiro, fabulosas quantias arrancadas dos
orçamentos públicos. Desde a água que o recruta bebe no treinamento, suas
roupas, sapatos, a comida e o salário do militar instrutor nas artes de matar,
passando pelo que se gasta na manutenção de frotas de navios, no preparo
constante dos aviões ou com o submarino nuclear até ontem não imaginado. Tudo é
dinheiro gasto, centavo por centavo empregado na produção do horror.
A guerra, como todos sabem, é um grande e lucrativo negócio,
forma absurda de investimentos e ganhos inevitáveis. Por isso, é organizada em
cada segundo do ano para acontecer no Oriente Médio, nas selvas da Colômbia, na
secura do Iraque, nas montanhas do Afeganistão e nos miseráveis países
africanos, sem contar outro tipo de guerra que ninguém considera guerra, como a
que ocorre nos morros do Rio de Janeiro, em cidades mexicanas tomadas pelo
trafico ou em centros urbanos onde o crime organizado não conseguiu ainda
acordo razoável com a polícia e o próprio Estado.
Portanto, dúzias de fotos de crianças mortas e civis calcinados
aparecendo nos meios de comunicação não chocam e nem alteram o humor dos que se
valem dessa prática selvagem para manter em dia o seu faturamento. Para os
gerenciadores de tão grande negócio, a vida de inocentes, inclusive crianças,
não vale trinta segundos de trégua.
Informação importantíssima e oportuna: o que se passa hoje entre
o estado criminoso de Israel e o povo palestino, não deve ser considerado
guerra e nem apenas um massacre continuado. Trata-se de mais um ato do
indisfarçável processo de extermínio que Israel reservou para o povo palestino.
Também é importante lembrar: em 6 e 8 de agosto 1945,
covardemente foram atiradas duas bombas nucleares sobre cidades japonesas.
Primeiro Hiroshima, depois, Nagashaki, cidades de grande população. De lá para
cá, os armamentos ficaram mais letais e a humanidade bem mais fragilizada. No
entanto, enquanto os artefatos nucleares não explodem e botam um fim definitivo
na trajetória do homem, milhões morrem pela fome proporcionada pelos recursos
financeiros desviados para a produção de armas e sequencia de guerras
localizadas.