Professor
Silvio Prado
(Descobri o texto abaixo
perdido num canto da memória do computador. Escrito no ano passado, resolvi
publicá-lo agora. É mais um relato indignado sobre a corrupção no Metrô de São
Paulo, encontrado exatamente na semana em que Robson Marinho, tucano que presidia
o Tribunal de Contas do Estado, recebeu da justiça um merecido ponta pé no
traseiro por envolvimento em mutretas e propinas que empresas como a Alston e
Siemens fizeram e pagaram para vencer licitações tucanas no sistema de trilhos
paulista. Devido ao acobertamento pela grande imprensa, e também pela
morosidade da justiça, o tema permanece atual.)
Alckmin está fazendo
malabarismos buscando convencer a opinião pública de que o escândalo da Siemens
é mais uma mutreta petista produzida contra ele. No seu malabarismo não
faltaram poses de extrema seriedade e a frase habitual: tudo será rigorosamente
investigado.
Quem acompanha a vida
política do governador já perdeu a conta de quantas vezes frase semelhante foi
pronunciada, mas não se lembra de nenhum resultado das investigações
prometidas.
Alckmin sabe muito do
poder explosivo do escândalo da Siemens e o quanto de revelações
comprometedoras poderão surgir nas investigações do Ministério Público ou mesmo
de uma CPI.
Dizer que ignora essa
teia de relações promíscuas debaixo de seu proeminente nariz é chamar a
população de boba ou se mostrar administrativamente incompetente. Como pode um
lesivo cartel de multinacionais funcionar a todo vapor durante quase vinte anos
e não ser percebido por gestor que se diz tão competente, integro,
preocupadíssimo e zeloso com os bens do Estado? Não é com essa imagem que
Alckmin se apresenta?
Como pode carretas de
dinheiro saindo durante anos do cofre público e nada ser notado?
Mesmo que a grande
imprensa não tenha se empenhado em aprofundar denúncias feitas desde 2008,
inúmeras vezes gente tucana foi flagrada numa relação de envolvimento suspeito
com empresas participantes de licitações e obras do Metrô, como provam
documentos do MP.
É o caso de Robson
Marinho, político valeparaibano (ex-deputado federal tucano, ex-chefe da Casa
Civil do governo Covas, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado) que,
segundo a imprensa, na relação com o cartel multinacional já ocupou a função de
distribuir entre os contemplados a grana que facilitou a vitória das multis em
licitações do Metrô.
Mesmo que alguns setores
da grande mídia já não consigam esconder o escândalo, o tratamento dado ao
assunto continua ameno e pouco contundente. Se entre os envolvidos estivesse
alguém do PT ou de qualquer “sigla vermelha”, todos os participantes do esquema
seriam quadrilheiros, bandidos, e o Jornal Nacional seria aberto com revelações
surpreendentes ou impossíveis de ser provadas. A decadente Veja produziria
capas impossíveis. A Folha combinaria com o Estadão uma manchete única para os
dois jornais, e a Joven Pan, com a voz de cemitério de seus locutores,
completaria o linchamento.
Enfim, como somos
cidadãos de boa fé e acreditamos em gnomo, Papai Noel, Saci Pererê e até na
Rede Globo, vamos aguardar (devidamente sentados) as apurações rigorosas
prometidas por Geraldo Alckmin.