Antonio
Barbosa Filho, jornalista
O PT, ao qual não sou filiado, mas considero
de longe o partido mais articulado do Brasil, comete sérias falhas no Estado de
São Paulo. É muito difícil criticar o PT, porque alguns membros mais
entusiasmados logo apontam "fogo amigo" e rechaçam qualquer tipo de
ponderação. Mas, por lealdade, sinto-me obrigado a expressar minha opinião,
apelando à reflexão sincera dos companheiros e companheiras.
Em 2012, antes da eleição para prefeito da
capital, participei de um debate no Centro de Estudos da Mídia Alternativa
Barão de Itararé, presidido pelo querido amigo Altamiro Borges. Vários amigos
petistas presentes, e o grande jornalista Raimundo Pereira lançava seu livro
sobre o "mensalão". Havia um clima de desânimo total, diante do
fenômeno Russomano, que parecia invencível. Fui o único a dizer que não via tal
favoritismo nas ruas, e que ainda havia chances de vencer, caso o partido se
mobilizasse mais e saísse da paralisia. Raimundo, um dos jornalistas mais bem
informados do Brasil, discordou explicitamente: "Você está enganado, esta
eleição já está perdida". Felizmente, desta vez ele estava errado e eu
estava certo. Haddad é hoje o prefeito de São Paulo, dando um sopro de
modernidade à grande metrópole.
Agora, em 2014, o mesmo clima de paralisia
acometeu o PT paulista. Com as exceções de praxe - há militantes dando seu
sangue nas ruas, e tenho que aplaudi-los de pé - o PT no Estado vem fazendo uma
campanha morna, se não fria, para o melhor candidato que o partido jamais
lançou para governador, o Dr. Alexandre Padilha. Nunca vi desperdiçar-se um
"produto" tão bom, por puta divisão interna.
Na semana passada, na capital, conversei com
vários petistas e simpatizantes. A esta altura do campeonato, ainda estavam
discutindo se Padilha era ou não a melhor escolha para representar o PT nas
eleições! Ora bolas, o processo de escolha foi democrático, partindo da
indicação feita por Lula. O candidato é militante histórico, leal, e brilhou
como ministro das Relações Institucionais de Lula e, depois, da Saúde de Dilma.
Não tem manchas em seu passado, e seria, tranquilamente, um grande governador,
o único capaz de recuperar nosso Estado de vinte anos de marasmo e corrupção
tucanas.
São Paulo não merece continuar nas mãos desse
partido tão antissocial e incompetente.
PESQUISAS
Os "institutos de pesquisas"
integram o núcleo da campanha da direita. Todo o PIG é patrocinado fortemente
pelo governo de SP, onde, por exemplo, a Sabesp gasta mais em publicidade do
que em prevenção da seca ou contenção dos vazamentos que desperdiçam 30% da
água fornecida.
Diante da queda fulminante de Aecinho Neves,
os institutos decidiram que ele não poderia ficar abaixo de 15%, sob risco de
arrastar consigo os candidatos a governador, senadores e deputados do PSDB. Alckmin,
especialmente, por ser o dono do maior cofre, tem que ser protegido a qualquer
custo. Não basta o PIG esconder os muitos erros, fracassos e escândalos do
governo tucano: é preciso mostrá-lo como um campeão de votos, vencedor desde
sempre. Ninguém teria chances de derrotá-lo.
Assim, o Aecinho ficou três semanas (e várias
pesquisas) estacionado nos 15%, enquanto todos os demais candidatos mais
representativos oscilavam para cima ou para baixo. Ninguém me convence que isso
seja possível.
Da mesma forma, Padilha ficou estacionado por
várias semanas nos 4 e 5%. Tudo se movia, menos o candidato do PT! Só nas
últimas semanas, ele subiu um pouquinho, para 8 ou 9% e daí não sai, nas
pesquisas que o PIG encomenda ou produz. EU NÃO ACREDITO!
Em 2010, para governador, o PT obteve 35,53%
dos votos, no Estado de São Paulo. O que teria acontecido com esse enorme
contingente de eleitores para se reduzir tanto? A vida dessas pessoas piorou
tanto de lá pará cá? A rejeição ao PT aumentou neste ano, mais do que no auge do
"mensalão" estampado nas manchetes e tratado com horas de TV? Lula
deixou de ser admirado pelos que gostam dele? Não encontro explicações. Na pior
das hipóteses, ainda que houvesse razões importantes, digamos que o PT caísse
para a metade: Padilha estaria hoje, a uma semana do pleito, com uns 18 a 20%,
certo? Mas, não. As pesquisas insistem em mantê-lo num distante terceiro lugar.
MUTIRÃO
A experiência me diz que uma eleição pode
virar completamente em uma semana. Já aconteceu muitas vezes, como provam Erundina,
Marta, e até o tucano prefeito de Curitiba, que na véspera da eleição de 2012
estava em TERCEIRO LUGAR.
Se cada deputado e candidato a deputado do
PT, cada prefeito do partido, reunirem suas bases hoje e amanhã, e convocarem a
todos para um MUTIRÃO por Padilha, se cada um de nós, filiados ou simpatizantes
ou formos (os que estão fazendo corpo-mole) para as ruas, portas de fábrica e
escolas, casa a casa, podemos perfeitamente gerar uma "onda vermelha"
capaz de surpreender.
Não pensem que estou sonhando: isso já
aconteceu, nosso candidato é simplesmente o melhor, Alckmin sofre de
"fadiga de material", nada promete de novo e as pessoas buscam uma
alternativa sem conseguirem enxergar, porque temos sido incapazes de expor o
Padilha aos milhões de paulistas.
Dá prá crescer muito, e talvez, até para
vencer. O eleitor está decidindo agora, e só votará em Alckmin se não conhecer
a nossa alternativa. Teremos jogado fora uma oportunidade histórica, de
quebrarmos a hegemonia do PSDB em São Paulo, no momento em que ela está mais
frágil, sustentada apenas pelo PIG. Quem acha que todo paulista é reacionário,
precisa lembrar-se que a capital elegeu duas mulheres e um negro, nas últimas
décadas, e que o PT saiu da última eleição para governador com mais de um terço
do eleitorado.
Vamos à luta? Jogar a toalha antes do final
da batalha é indigno dos petistas e da Esquerda que o apoia.
Está lançado o desafio!